TRAVESSIAS 4

O Travessias propõe contatos afetivos e criativos com o mundo e as pessoas por meio da arte, criando possibilidades inovadoras de convivência. Nesta quarta edição, convidamos dois artistas – Regina Silveira e Eduardo Coimbra – para realizar obras em diálogo com a vida na Maré.

Abrimos, pela primeira vez, um edital público para projetos de artistas não inseridos no circuito de arte. Fomos surpreendidos por um imenso fluxo de propostas. A obra de Marie Carangi e a da dupla Antonello Veneri & Henrique Gomes foram as selecionadas.

Regina Silveira apresenta uma obra da série “Touch” (2013), que se espalha pelo galpão apalpando suas paredes. A artista realizou igualmente o projeto educativo TOCA-AQUI, em que máscaras agigantadas de mãos de crianças da Maré foram preparadas durante uma semana e, em seguida, pintadas nas ruas, buscando agregar ações que respondessem a questões da identidade e da ocupação simbólica de espaços em vias públicas da Maré.

Eduardo Coimbra aceitou o desafio de criar uma obra impactante para o Travessias e ocupa o espaço aéreo do Galpão Bela Maré. Os enormes backlights apresentados são um desdobramento da pesquisa que o artista realiza há alguns anos com imagens de céu. O público está convidado a se aproximar do céu e, por meio da manipulação dos “Balancéus”, criar um movimento entre as nuvens.

“Interiores da Maré” é uma série de fotografias iniciada em 2013 pelo fotógrafo italiano Antonello Veneri e o produtor cultural Henrique Gomes. Juntos, realizaram um ensaio de retratos de trinta famílias em suas casas, em comunidades da Maré. O projeto conjuga o olhar afetivo e familiar do produtor com o olhar estético e técnico do fotógrafo.

Marie Carangi veio de Recife para realizar o “Corte estilo guilhotina”, uma combinação de pesquisa, performance e instalação que procura atuar, no plano subjetivo, na forma de questionar a autoimagem como poder e sua relação com padrões de representação revelados pelo cabelo. Durante duas semanas, Marie se hospedou na Maré para mapear grupos da comunidade e convidá-los a participar do projeto. Durante a abertura da exposição, a artista realizará a performance em que os participantes tiveram seus cabelos cortados na guilhotina. O resultado está exposto no galpão junto com o vídeo “Demonstração: corte estilo guilhotina”.

O programa educativo “Territórios de afetos e ativações” realiza durante toda a exposição diversas atividades como visitas mediadas, ações poéticas/experimentais, prosa com artistas e encontros entre multiplicadores, contribuindo para a construção de saberes e sentidos.

Ampliamos a representação do território da Maré através da maquete em uma oficina coordenada pelo arquiteto Pedro Évora que contou com a colaboração de mais de quarenta pessoas. Saudamos assim a interação no processo de construção dos espaços da cidade.

Entre este movimento de dentro e de fora da Maré e a cidade olhando para si e para o que quer de si, chegamos ao quarto ano de trabalho no Galpão Bela Maré, na Favela Nova Holanda, Maré, Rio de Janeiro, Brasil. A travessia está em todo o processo e é para todas e todos.


ARTISTAS

 
 
 

EDUARDO COIMBRA
Rio de Janeiro, RJ, 1955. Vive no Rio de Janeiro, RJ.

Eduardo Coimbra iniciou sua carreira no começo dos anos 1990, com trabalhos em que objetos familiares eram resgatados do anonimato através do uso de pequenos motores, luminosos e mecanismos elétricos. Ao longo dos anos, contudo, o foco da ação do artista tem se deslocado gradualmente para trabalhos de grande escala, culminando com a realização de importantes instalações públicas. Para além dessas encomendas, cabe notar que até uma produção mais intimista, como a da grande série de maquetes realizadas a partir de 1999, ou as fotografias/colagens em que ilhas aparecem flutuando no céu, num cenário quase onírico (série “Asteroides”), apontam para esse desejo de grandiosidade. As maquetes em especial, ao mesmo tempo em que adquirem, por vezes, um tom quase surrealista, nunca deixam de apresentar-se como passíveis de serem realizadas, algum dia, em escala humana. O interesse do artista é, portanto, uma abordagem do espaço enquanto elemento qualitativo em nossa percepção. A proximidade com a arquitetura e as pesquisas de registro, a conceituação e a recriação de paisagens geraram trabalhos em que o espaço físico do espectador é parte integrante da obra. A obra de arte habita o mundo real e se apresenta como dispositivo questionador de nosso senso comum.

 
 
 

REGINA SILVEIRA
Porto Alegre, RS, 1939. Vive em São Paulo, SP.

Durante a década de 1960, Regina Silveira forma-se como artista, produzindo principalmente gravuras geométricas. Na década seguinte, começa a utilizar mídias distintas em um mesmo trabalho e, de forma precursora, a fazer trabalhos com vídeo, fotografia, colagem, xerox, postais. Daí em diante, volta sua atenção cada vez mais à temática da ocupação do espaço, desenvolvendo projetos que subvertem a perspectiva, a representação e a percepção do espectador. Nos anos 1990, a artista projeta-se internacionalmente através dos diversos prêmios, residências e bolsas com os quais foi contemplada. Aproxima-se ainda mais dos meios tecnológicos e chega a afirmar que o que faz é uma “forma de computação feita à mão”. Alia-se a isso a especificidade das obras para o contexto arquitetônico e espacial onde se encontram. Assim, através de recortes e impressões vinílicas, jogos de luz e sombra, colagens e outras interferências diretas sobre os locais, Regina Silveira apresenta seu discurso poético mais recente. Como professora, participa da formação de diversos artistas que hoje atuam no cenário cultural brasileiro e internacional.

 
 
 

MARIE CARANGI
Recife, PE, 1989. Vive em Recife, PE.

Marie Carangi trabalha com performance, gravura, vídeo, experimentos capilares e sonoros. Entre 2011 e 2013, realizou trabalhos de litografia na Oficina Guaianases UFPE, expondo pela primeira vez na Sala Recife. É integrante, desde 2014, do coletivo de gravura Gráfica Lenta. Graduou-se em Arquitetura e Urbanismo pela UFPE em 2013 com o trabalho “Peluqueria Carangi: recortes e situações além ambiente”, trabalho desenvolvido a partir da performance-serviço “Peluquería Carangi”, que surge em 2012 no “Lesbian Bar” do artista Fernando Peres, no Recife, depois se espalha como situação itinerante e parasita em espaços públicos de cidades do Brasil – Recife, Rio de Janeiro, Itajaí, São Paulo, Brasília – e do mundo – Cannes e Paris, na França; Amsterdã, na Holanda; e Berlim, na Alemanha. “Peluquería Carangi” se desdobra em publicações, performances e instalações, participando em 2013 do XVIII Salão Nacional de Artes de Itajaí, SC, e da I Mostra ArtTrainee em Bêcúbico, Recife, PE; e em 2014 do Prêmio Situações Brasília, DF. Na individual “GRITO CORTE”, exibida primeiramente na Galeria MauMau, no Recife, são apresentadas as performances em vídeo “GRITOFONIA” e “Demonstração: corte estilo guilhotina”. Em 2015, “GRITO CORTE” é exibida em nova montagem como parte da I Mostra do Programa de Exposições 2015 do Centro Cultural São Paulo.

 
 
 

HENRIQUE GOMES
Rio de Janeiro, RJ, 1983. Vive no Rio de Janeiro, RJ.

Henrique Gomes atua no Complexo da Maré há cerca de quinze anos na área musical e de produção cultural. Iniciou-se na música no começo dos anos 2000 dentro da Maré, tocando em diversas bandas e produzindo eventos culturais. Participa de alguns coletivos de artistas e produtores que atuam na Maré e de outros locais da cidade, e atuou como produtor cultural na lona municipal Herbert Vianna. Participou com sua banda de turnê pela Europa incluindo treze países e atuou como articulador local, na mobilização comunitária e como produtor na Escola de Cinema Olhares da Maré (ECOM). Desde 2010, é assistente de pesquisa, auxiliando um significativo número de pesquisadores, em nível de mestrado e doutorado, do Brasil e de outros países, interessados principalmente nos temas de segurança pública, governança e favelas. É dessa época também sua participação em produções locais envolvendo fotografia e vídeo. Em 2013, inicia seu contato com o fotógrafo italiano Antonello Veneri em uma parceria muito frutífera que culmina com o projeto “Interiores da Maré” no Travessias 4.

ANTONELLO VENERI
Itália, 1973. Vive no Rio de Janeiro, RJ.

O italiano Antonello Veneri é formado em Literatura Italiana e História e trabalha como jornalista e fotógrafo desde 1999. Mudou-se para o Brasil em 2009 e fotografa para veículos como o “Jornal La Repubblica” (o maior da Itália) e Agencia Coofiav (“Folha de S. Paulo”, “O Globo”, “Carta Capital”, “IstoÉ” etc.). Suas imagens já foram publicadas em inúmeros livros, jornais e revistas. Colabora há vários anos com ONGs de São Paulo e com o Ministério da Saúde do Brasil (Fiocruz) em projetos de documentação social. Seu olhar documenta o que acontece no Brasil e, desde sua primeira estadia no país, vem desenvolvendo o projeto “Vidas extraordinárias”, acompanhando e narrando através de suas imagens histórias de moradores de rua nas maiores cidades brasileiras. Em 2014, ganhou o prêmio de melhor reportagem da “National Geographic” Itália.

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GALPÃO BELA MARÉ

Rua Bittencourt Sampaio, 169, Maré. Entre as passarelas 9 e 10 da Av. Brasil. MAPA.

De terça a sexta, das 10h às 17h. Sábado das 11h às 17h. Entrada Gratuita.