16 de novembro de 2015
12:59

A MARÉ TRANSBORDOU

O sol, escaldante. O calor, de fritar ovo no asfalto. A Maré? Movimentada, colorida, gente pra lá e pra cá. E o galpão, como sempre, de portas abertas, deixando as pessoas se encontrarem; com elas mesmas, com novos sentidos, lugares e olhares.

O dia de despedida do Travessias 4 começou já com uma certa nostalgia do que ainda nem tinha acabado; quem trabalhou duro no projeto, mais uma vez, já sentia saudade dessa edição; tiraram foto em frente às mãos de Regina Silveira, balançaram mais algumas vezes – como num ato automático, orgânico – a escultura de Eduardo Coimbra. Dona Márcia, que sempre recebe os convidados, responsável pela limpeza e portaria, se emocionou: “é sempre muito bom trabalhar aqui” – descobrimos que ela só tiraria os grampinhos do cabelo na hora da festa, mais tarde.

A verdade, como comenta o “Tio Alberto”, uma das pessoas que faz o projeto acontecer, é que toda essa arte é pretexto, “porque nossa intenção vai além das exposições, queremos é provocar relacionamentos”.

Foi nessa direção que caminhou a Oficina de Design, primeira atividade do dia, iniciada às 11h desse sábado de sol, 14 de novembro. Veio gente de São Paulo e até da Colômbia, da favela, do asfalto. Todos se depararam com referências diferentes, com um bom bate-papo, entre recortes, colagens, desenhos e impressões – literal e figurativamente. Com atenção e carinho evidentes, Tonho, que ministrou a oficina, observou os trabalhos, conversou com os aprendizes, conhecendo um a um, ajudando-os em suas expressões. O desafio sugerido dessa vez foi observar o espaço, percebê-lo, para capturar aquilo que é “indizível” na Maré. Difícil, né?

Na grande mesa de madeira da sala com ar condicionado – fresquinha, fresquinha -, um cenário cheio de criatividade, com fitas, colas, adesivos, baralhos, lápis de cor, canetinhas. E no intervalo do almoço, já ao redor de outra mesa, num restaurante da redondeza, rolou solta a troca de ideias – e de realidades.

O encerramento do Travessias 4 tinha só começado.

Às 17h, chegaram na casa, para uma super conversa, a curadora Daniela Labra, o arquiteto Pedro Évora e o artista Marcos Chaves. Provocados por Jorge Barbosa, do Observatório das Favelas, eles fizeram a Maré transbordar; de boas lembranças do primeiro Travessias e de entusiasmo quanto à capacidade da arte de impactar as pessoas, promover acesso.

“A arte desendurece nossos corações”, “achou” Daniela. “Violência, a gente neutraliza com amor”, reafirmou Marcos. “O Travessias não é só uma fagulha; eu aposto que é potência”, acreditou Pedro.

Dona Maria Vitória – protagonista de uma das fotografias expostas no Galpão – fez questão de dar uma passadinha para agradecer, esbanjando elegância. “Muito obrigada a todos. Esse projeto é muito importante para a comunidade; vocês não fazem ideia de como me ajudaram, sou outra pessoa, com auto-estima”.

Enquanto tudo isso acontecia, era montado, do lado de fora, um paredão de caixas de som. Às 19h, a festa começou. O Seu Antônio, tio do churrasquinho, já botava a carne para assar, feliz da vida. A Dona Márcia soltou os grampinhos e vestiu uma saia florida, sorridente que só. Os artistas, curadores, as crianças e os moradores se uniram, cantaram, curtiram, e abraçaram, no ritmo do passinho, mais essa edição do Travessias.

Nos deixamos ser atravessados por uma sensação tão boa!

Que o próximo não demore! Até lá!

Por Glenda Almeida / 14